Páginas

sábado, 20 de agosto de 2011

Just a Story - Pedaços de mim


  Se eles soubessem como tudo isso te afeta...
  Eu tenho dezesseis anos. Não sou perfeita. Quando eles vão entender que essas cobranças não funcionam? Eu não consigo fazer melhor do que isso.
  Você é uma pessoa má! Tudo o que dizem é verdade. Todos sabem que você é imprestável. Ninguém se importa!
  Hoje, pela primeira vez, eu me cortei. Não achei outro modo de extravasar toda essa minha frustração. Foi simples. Achei uma lâmina e a passei de leve, sentindo o fio dividir a minha pele, mesmo que muito superficialmente. Não foi agradável, mas, a dor que eu senti superou a frustração e a irritação. Me fez esquecer. Como uma droga que entorpece os sentidos, como a bebida que inebria o apreciador imoderado. Trouxe a dor, mesmo que apenas por alguns minutos, para o plano físico, e fez com que a minha mente se aliviasse dessa pressão constante. Só posso dizer como foi incomum ter uma dor que um curativo fizesse melhorar.
  Mais uma vez você foi criticada, não é? Não adianta, nunca vai conseguir fazer nada certo! Imprestável!
  Já faz dois meses que os cortes se tornaram constantes. Durante esses dias, tenho feito pedaços de mim, mas ninguém parece notar. Faço hoje, pedaços de algo que já pôde ser chamado de humano, de pessoa. Sou só cicatrizes. Marcas que ficarão para sempre em um monte insensível de matéria. Minha alma se esvaiu no sangue que derramei. Não sinto mais nada. Minha sanidade se acabou. Não sou mais aquela que se importava. Tudo o que vejo agora são os cortes. Esse, hoje, é meu único vício. O único meio que possuo de me fazer sentir algo novamente.
  De que vale viver assim? Não seria melhor acabar com tudo de uma vez? Acho que tenho razão ao pensar assim. De que vale essa matéria, se os sentimentos não existem mais? Me tornei fria e cruel comigo mesma. Não posso mais. Simplesmente não posso. É tudo muito difícil! Já sei como terminar com tudo isso, com esse sofrimento que parece ser eterno.
  Peguei uma lâmina, como de costume, e me despi. Fiquei somente com a minha roupa íntima. Comecei a fazer os cortes, o ódio à vida vinha cada vez mais forte. Os cortes foram se aprofundando. Braços, pernas, barriga. Todo o meu corpo se tornou um mar vermelho. O sangue vertia das feridas. A dor era terrível, me fazia quase perder os sentidos, mas eu aguentei, pois o meu fim estava por vir. Tomei coragem e desci as escadas que levavam à sala onde minha "família perfeita" estava a aproveitar algum programa ruim na televisão. Com a lâmina ainda em mãos, deixando cair gotas de sangue pelo caminho, me postei diante daquela gente e apenas anunciei: "Não posso mais..."
  E fiz o corte final.

domingo, 7 de agosto de 2011

Igualdades e diferenças

Ontem, dia 06 de agosto de 2011, foi o dia em que eu me tornei uma pessoa diferente. O que eu vi deixou uma marca em mim que eu não sei se conseguirei apagar algum dia. Nem quero. O que aconteceu? Vou contar...
Todo sábado, desde o dia 23 de julho, eu tenho participado do projeto Click (saiba mais aqui). Ontem não foi diferente. Acordei, peguei a lotação e fui a caminho de mais uma oficina. Ao chegarmos, a matéria do dia era "fotojornalismo". Um fotógrafo nos ensinou o básico de como utilizar os equipamentos e então partimos para a atividade do dia.
O local? Uma comunidade bem perto dos nossos olhos, mas que nunca conseguimos enxergar verdadeiramente (pelo menos eu tive essa impressão). O Spama, bem aqui, pertinho da gente. Eu ia dizer que foi o palco que nos permitiu ver a realidade que não conseguimos enxergar se não quisermos, mas como posso usar a expressão palco? Palco para que show? A miséria mora ao lado e não vemos. Isso me deixa desapontada com o ser humano.

Pois é... a foto acima me marcou bastante. Sim, é um sapatinho de bebê, no meio da sujeira que vai se acumulando a céu aberto nas vias dentro da comunidade. Pensar que pessoas vivem assim já é bastante comovedor, mas dói mais imaginar que pequenas pessoas, indefesas, vítimas de uma sociedade egoísta, são obrigadas a viver e a crescer nessa situação.
Vendo essa imagem, eu lembro da minha infância, das oportunidades que eu tinha, de como era bom. Mas aí, eu lembro de quanta gente passa por necessidades, como ter um brinquedo, ou até mesmo comida. Vimos crianças que brincavam em meio à sujeira, e ainda assim conseguiam sorrir. Vi adultos que sorriam para as crianças, apenas para aparentar que está tudo bem. Mas não está tudo bem! Precisamos achar um jeito de melhorar. Por eles, e por nós mesmos.

Me envergonho da sociedade. Mais a cada dia.