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sábado, 27 de abril de 2013

Números quebrados

Mesmo brigados, eles estavam estudando juntos. Sempre antagônicos, ele estudava português e ela matemática. Áreas tão distintas quanto seus corações naquele momento. A discussão acontecera há alguns dias, mas apesar de não se falarem, estavam juntos ali, como de costume. No meio da leitura de um texto “que valeria para as próximas três questões”, ele a ouviu reclamar.
- O que foi?
- Essa conta deu errado.
- Só isso?
- Só. Era pra ter dado 5, mas deu 4,907. – e fez uma pausa. – Não gosto de números quebrados.
- Poderia ser pior.
- Como? O que é pior do que números quebrados?
- Ideias, palavras, frases truncadas.
- Você e seu português.
- Você e sua exatidão...
- Você sempre critica o meu modo de pensar. Tenho culpa se eu sempre vou pelo lado mais prático das coisas?
- E você sempre critica o jeito com que eu me perco nos meus pensamentos. Mesmo sabendo que é sempre mais divertido ser assim.
- Por que ainda estamos juntos?
- Porque, apesar de tão diferentes, nos completamos.
- Será?
- Sim, porque eu acabei de ver onde você errou na sua conta.
- Ah é? E onde foi?
- No português.
- Como assim?
- O enunciado diz “encontre o resultado aproximado”. 4,907 é bem próximo de 5. Na verdade, a sua conta está certa.
- O que seria de mim sem você?
- Não sei. Talvez apenas um número quebrado.
- E de você sem mim?
- Palavras, frases e ideias truncadas.

Nota da autora: O link no meio do texto é pra dar o crédito à fonte de inspiração deste diálogo.