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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O efeito

Estava deitada em sua cama há cerca de duas horas apenas pensando no mundo. Seus problemas vez ou outra cruzavam sua mente também. Notas mentais importantes para o dia seguinte. Não, amanhã é domingo! Então fica pra segunda. Voltou aos devaneios que ficavam cada vez mais intensos. De repente uma certa frase passou pela sua mente e fez com que lembrasse de um livro que leu anos atrás. Que fez parte de sua infância.

Onde será que anda aquele livro? Não sabia. Apenas pensou nele. Achou melhor levantar para enfrentar o   sábado que agora já estava algumas horas menor. Para aproveitar o final de semana não se pode ficar o dia todo na cama, bem dizia a mãe. Esse pensamento contrariou todas as suas filosofias que havia se apegado firmemente na época da faculdade. Sem saber o porquê, passou o dia todo com trechos da história indo e vindo em sua cabeça, fazendo sentido às situações mais aleatórias possíveis. Onde será que anda aquele livro? Pensou melhor por um instante e resolveu sair à caça, qual predadora esfomeada por uma saudosa leitura.

Percorreu cômodos, abriu portas, fechou-as com raiva, abriu outras, encontrou fotos de anos atrás, lembranças que retornaram ainda mais fortes. Uma singela lágrima foi derramada ao ver a foto do irmão mais novo. Lembrou-se de como foi difícil despedir-se dele quando se mudou para a casa atual. Mas o que é que procurava mesmo? Ah, o livro. Tal qual um Sherlock, seguiu pistas, achou outros livros, desvendou o mistério da meia perdida de duas semanas atrás. Uma pena já ter jogado a outra fora por causa da desesperança de encontrar este pé. Uma pena mesmo.

O livro! Continuou a busca até que deu de cara com ele, ali, quieto, contido em sua simplicidade no canto de um armário cheio de coisas velhas. Não que ele mesmo fosse velho, visto que era o seu preferido. Um clássico. Sim, esse termo é bem melhor.

Achou-o. Sua busca quase que frenética dentro da própria casa cessou. Seu objetivo daquele dia foi concluído. E agora? Foi então que preparou uma boa caneca de café e foi aproveitar seu sofá, sua bebida e seu recém achado tesouro. Reler uma história que, na primeira vez, teve sobre ela o efeito de choro. Assim como na segunda e na terceira. Trazia imagens de uma infância ideal. A sua própria. "Meu primeiro livro" murmurou baixinho enquanto folheava as primeiras páginas.

Já na primeira linha uma lágrima, não se sabe se de alegria ou de emoção, escorreu. Nostalgia, talvez. Incrível como, depois de tanto tempo, aquele singelo monte de páginas alinhadas ainda tem o mesmo efeito sobre ela. Ao fechar os olhos é capaz de sentir-se ali, ainda criança, na casa dos pais experimentando pela primeira vez o prazer da leitura.

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