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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Just a story - Numa noite qualquer


Ela tinha apenas sete anos quando aconteceu. Era apenas uma criança à mercê de um mundo novo e cruel. Mas, por pior que fosse, estar ali sozinha não se comparava às ultimas experiências que teve.

O pai, que um dia jurara protegê-la não importando como, tinha cumprido essa promessa na noite anterior. Sem escolhas aparentes, ele entregou-se à morte para poupar a pequena da bala iminente, atirada por um vagabundo qualquer. A mãe nem teve chances de entender o que estava acontecendo. Quando virou-se para o assassino do marido, a única coisa que conseguiu distinguir foi o cano da arma já na sua testa. Era tarde demais.
Ela, escondida no banco de trás, viu tudo. O maior trauma que carregaria em sua vida, se é que passaria desse dia. Desse minuto. E o motivo disso tudo? O que o pai e a mãe fizeram? Esta seria uma dúvida que ela carregaria por toda a sua existência. Que ela soubesse, o pai era um homem bom, sempre presente e amoroso. A mãe também não era de todo má. Os traumas que trazia consigo tornavam simplesmente impossível a demonstração do carinho que sentia pela filha. Mas em seu ultimo suspiro, a mãe olhou direto nos olhos da menina escondida no banco de trás do carro. A parte racional da menina duvida que ela a tenha realmente visto ali, mas seu coração sabe que ela a vira, e com esse ultimo olhar a filha entendeu o amor incondicional que sempre teve de sua mãe.
Quando a polícia chegou já era tarde demais. Os pais já tinham morrido faz tempo, o bandido já tinha fugido há muito e ela tinha simplesmente saído do carro e vagueado até um lugar qualquer. Sem a preocupação se seria achada ou não, afinal que diferença faria agora? Achou uma pessoa solidária que a ajudou naquela noite oferecendo um lugar pra ficar, mesmo sendo embaixo de uma caixa de papelão num beco qualquer. Foi ajudada por causa do seu estado de choque, que comoveu aquele velho andarilho que, ao olhá-la teve um relance de sua filha há muito deixada para trás. Talvez por esse amor de pai, o andarilho lhe mostrou uma confiança que até hoje ela só tinha visto em uma pessoa, a qual estava agora ensanguentada no banco do carro que ficara a alguns quilômetros. Sim, quilômetros. O choque foi tão grande que a menina nem se deu conta do quanto andou. No dia seguinte, sem dar satisfações e ainda em choque, andou mais. Sem rumo, apenas tentando fugir da realidade, embora tal a fosse perseguir pelo resto da vida.
Não tinha parentes, nem amigos. Tudo aconteceu num tempo em que não conhecia nada nem ninguém. Agora ela se encontrava ali, com as roupas manchadas, sentada olhando para o nada e esperando que tudo isso fosse um grande pesadelo, mas infelizmente não era. E ela sabia. Na primeira noite que passou completamente sozinha, num lugar frio, olhando o mundo agora com outros olhos, ali ela cresceu. Naquele momento, amadureceu. E ela se deu conta de que era apenas mais uma criança forçada a ser adulta para não ser apenas mais uma que perece ante a vida que, para alguns, mostra sua real face. A cruel e desumana.

2 comentários:

  1. Amanda, você não escreve. Você transborda um dom através de letras, é diferente.
    Você já é uma grande autora. Uma das minhas preferidas!
    Já visitei muitos blogs de adolescentes, mas em nenhum deles encontrei alguém que tivesse o dom que você tem. Você consegue usar as palavras como ninguém, consegue emocionar.
    Me sinto honrado de poder chamar uma pessoa tão talentosa de amiga.
    Mal posso esperar para o próximo texto do 'Just a Story' *-*

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  2. Edson puxa sacoooooo! haha
    Brincadeira! A Amandinha escreve muito bem mesmo. Me lembro quando conversamos sobre dons... e escrever é definitivamente um dos seus. Parabéns :)

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